domingo, 24 de março de 2013

«Mel», de Ian McEwan

Editora: Gradiva
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 388
No incipit do último romance do escritor britânico Ian McEwan vem escrito: «Chamo-me Serena Frome (…) e há quase quarenta anos fui enviada numa missão secreta para os serviços de segurança britânicos. Não regressei incólume.» Só no último capítulo (pp. 361-386), o ponto mais intenso, deste livro constatamos que foi-nos passada uma rasteira.
1972. Inglaterra. Serena Frome, a narradora, é uma mulher que viola o que é considerado moral. A educação que recebeu não incluía a liberdade como uma escolha. «O Bispo», como ela se refere ao seu pai, sempre pôs a religião e a ordem como prioridades, deixando o afecto para com ela, para segundo plano. Serena cresceu com pouco afecto da família, e talvez por essa razão os seus ímpetos sexuais estão sempre em alvoroço; ela vê os homens como objectos de prazer; A promiscuidade que possui funciona como um compensador de amor que ela tem em défice. Formada em Matemática (por vontade da mãe), em Cambridge, Serena que gostaria de ter seguido Letras, viu nesses anos de formação a única hipótese para pôr a leitura em dia, e crescer como pessoa. «Ler era a minha maneira de não pensar na matemática.» (p. 15). Jeremy, Tony e Max não foram apenas três nomes da sua lista de relacionamentos. Todos acrescentaram algo de substancial ao seu mundo vazio. Se Serena não tivesse conhecido Jeremy e, por conseguinte, Tony (um homem muito mais velho), não estaria a trabalhar nos Serviços Secretos Britânicos, fazendo-se passar por uma angariadora de talentos literários. Tom Haley é o escritor a quem Serena tem de persuadir a pertencer à fundação fantasma, que subsidiará o seu legado literário, sabendo eles de ante-mão quais os seus ideais. O plano é influenciar leitores e propagar tendências intelectuais anti-comunistas (George Orwell, com o seu O Triunfo dos Porcos, é mencionado como um dos escritores que foram «apadrinhados» por esse projecto; mas também os escritores Martin Amis e William Golding). Para tal, a jovem que é uma voraz bibliófila, não se aborrece quando os seus superiores lhe incumbem a leitura das obras do promissor escritor. Ela rapidamente apaixona-se pelo seu «cliente» e constrói um castelo de mentiras, sobre ela e sobre a missão da qual está encarregue, com o nome de código Mel (Sweet Tooth, no original). Quando ela pensa que tudo está ocultado, de espia passa a espiada. Tal como Serena, o leitor sentirá essa «passagem», a a de ver e a a de ser visto.
Há um capítulo extraordinário em que Serena e Tom falam sobre probabilidade — na ficção do livro que o escritor está trabalhando. É uma passagem que se lê com deleite.
Dizer que Mel é um romance de espionagem política, um livro sobre um livro, ou que é uma (auto)biografia — não de McEwan — é dizer pouco. Dizer que Serena foi «concebida» com fino recorte psicológico, é pouco. Que o resultado de Mel é notável, vertiginoso e envolvente? Afirmativo.
Ian McEwan (n. 1948) é autor de onze romances, entre os quais Amesterdão (Gradiva), obra vencedora do Booker Prize 1998.

8 comentários:

Maria Manuel Magalhães disse...

Estou muito curiosa em relação a este romance. Vai ser uma das minhas próximas leituras.

Miguel Pestana disse...

É um livro top, Maria Manuel

Luísa Campos disse...

Este livro,como a maioria dos romances deste autor, quando se começa a ler não se consegue parar,e termina como sempre, a mostrar-nos que as pessoas são destruidoras de si próprias e dos dos outros.... Tudo está dependente dos sentimentos que desenvolvemos durante a vida....
Gostei muito. 5*****

Miguel Pestana disse...

Este é o primeiro que leio de Ian McEwang, mas julgo que tenha razão Luísa.

5 estrelas, sem duvida.

Jorge disse...

Este livro Mel é inquietante...pois prende-se com uma educação que já muito usada!!!!

Gryps disse...

Estou curioso!

Diana Matias disse...

tenho um livro deste escritor: O Cirurgião! Tenho mesmo de o lr

Vasco disse...

É um dos próximos autores que lerei.