sexta-feira, 6 de setembro de 2013

«De Profundis», de Oscar Wilde

Editora: Editorial Estampa
Ano da edição (4ª): 2010
Nº de Páginas: 128

Escrita em 1897, quando Oscar Wilde esteve preso por acusação de práticas homossexuais, De Profundis é uma longa carta, com alto pendor de severidade. O autor dirigiu-a a Lord Douglas Queensberry, na altura em que estava quase a completar dois anos de penitência, na prisão de Reading.
Além do reconhecimento mundial que os seus escritos tiveram, o drama e a tragédia marcaram a vida do autor de O Retrato de Dorian Gray. Casou-se em 1884 e teve dois filhos. No início da década seguinte, o escritor irlandês enlaça amizade com um jovem estudante de Oxford e, durante dois anos, permite que essa amizade domine inteiramente a sua vida, mesmo sabendo que a essa pessoa não o respeitava nem o seu companheirismo nem o seu intelecto. Além de se culpar por tal Wilde conta nesta carta que permitiu que ele o tivesse levado «à mais completa e vergonhosa ruína financeira.»
Nesta espécie de autobiografia trágica, Wilde «vestido com roupa de condenado, um homem desgraçado e arruinado», revela o seu profundo conhecimento sobre as relações e psique humana, aborda temas complexos do foro íntimo e, de uma forma quase filosófica, explica o que de mal sucedeu nessa amizade que não foi apreciada e valorizada no seu verdadeiro valor, por uma das partes. Um dos objectivos de Wilde escrever a carta foi o de dar a conhecer ao seu destinatário que o perdoava de ele ter sido um dos principais culpados dele ver o seu nome envolto em infâmia pública e de ter entrado na mais penosa bancarrota.
«Se houver nela uma única passagem em que te faça vir as lágrimas aos olhos», escreve o autor na página 10 deste livro, «chora como nós choramos na prisão, onde o dia, tal como a noite, é reservado às lágrimas.»
De Profundis é verdadeiramente um livro revelador da maestria de um escritor que era genial. De lamentar que a Sociedade e todas as suas leis, crenças e costumes, por vezes, são as principais causadoras da ‘queda’ de grandes homens. Como nota, Oscar Wilde foi libertado poucos meses após ter enviado esta carta, mas com a saúde e reputação arruinadas. Talvez por este motivo o seu livro posterior, saído em 1898, Balada do Cárcere de Reading, foi publicado pseudonimamente.


«Lembra-te igualmente de que tudo aquilo que te é doloroso ler, é-me mais doloroso, a mim, registá-lo.» (p. 10)

Oscar Wilde e Lord Alfred Douglas, em 1893

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