quarta-feira, 31 de agosto de 2016

«A Factura», de Jonas Karlsson

Editora: Alfaguara
Data de publicação: Julho 2016
N.º de páginas: 168

«Era uma quantia incrível: 5 700 000 coroas. Impossível de levar a sério. Presumi que se tratava de uma dessas facturas falsas, do género das que ouvimos falar nas notícias da televisão e dos jornais.» Esta é a abertura de A Factura, um romance original e empolgante que explora com mestria questões prementes da condição humana.
Este sexto livro de Jonas Karlsson (n. 1971), um dos actores suecos mais aclamados da actualidade, foi publicado em 2011, é o primeiro título do autor a estar disponível em Portugal, e está presente nas livrarias de outros 24 países, como a Estónia, Polónia, Turquia, Inglaterra e Estados Unidos. Por cá, a tradução esteve a cargo de Paulo Ramos e encontra-se à venda há cerca de um mês.
Narrado pela voz do protagonista, um homem de trinta e nove anos (de que não chegamos a saber o nome), a história desenrola-se em Estocolmo, na actualidade. Solitário e rotineiro, ele mora num quarto alugado modesto, e trabalha a tempo parcial num clube de vídeo há quase dez anos. Sem familiares, ele mantém apenas uma amizade, com Roger, um homem egocentrista que só assinala o lado mais obscuro da vida. Sentindo-se feliz sem quaisquer reservas com a sua existência tranquila e enfadonha, o narrador, que ainda sofre as repercussões resultado de uma desilusão amorosa recente, continua alimentando a sua vida regrada. Até um dia. Até ao dia em que ele recebe uma factura misteriosa, exigindo que ele pague uma quantia astronómica (611.000 euros). Só pode ter sido um quiproquó de mal gosto, é o que pensa o nosso protagonista. Após explicações da empresa que remeteu a factura, sobre o porquê do valor, e dando-se conta de que não fora nenhum engano, este homem que já antes padecia de ansiedade, fica com a vida completamente descontrolada. Afinal, tudo tem um preço, dá-se conta. Os momentos de felicidade e de sofrimento que nos quase quarenta anos de vida passaram por ele, não passariam mais incólumes.
Minimalista, surreal e incomum, bem ao estilo kafkiano, em A Factura o leitor é conduzido numa ampla divagação sobre a vida, a morte, o amor, e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência. Um texto original e um enredo bem engendrado fazem desta curta narrativa, por vezes cómica, ora com nuances trágicas, uma obra que reserva horas de leitura agradáveis.
Finda a leitura, fica a pairar a pergunta: Qual o preço a pagar pela felicidade?

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